
A cultura da prestação de contas, da transparência e da governança no setor público brasileiro ainda não foi devidamente sedimentada ou consolidada. Essa dificuldade decorre do contraste com uma antiga cultura patrimonialista, que ainda persiste de maneira significativa na máquina pública brasileira como um todo.
No Brasil, de modo geral, observa-se uma cultura bastante arcaica, em que cada governante, ao ser eleito, busca deixar sua marca pessoal na administração. Com isso, não valoriza as obras e conquistas do governo anterior, o que acarreta um sério problema de descontinuidade administrativa.
Frequentemente, ocorrem demissões em massa, partidarização da máquina pública ou interrupção de obras públicas iniciadas por gestões anteriores, tudo para evitar que tais
realizações sejam associadas ao governo antecessor. Esse comportamento resulta na descontinuidade de políticas públicas e na ineficiência administrativa.
A ideia de accountability e de governança está profundamente conectada ao princípio da impessoalidade, da imparcialidade e ao entendimento de que a máquina pública pertence à sociedade, ao cidadão, e não ao governante de ocasião. Portanto, faz-se necessária uma transformação cultural mais profunda, com a substituição de antigos paradigmas por uma nova mentalidade na política brasileira, que valorize a continuidade administrativa e o interesse público.