Fábio Medina Osório
Sócio do escritório Medina Osório Advogados
Resumo
O 20 de novembro, conhecido como o Dia da Consciência Negra, marca a luta histórica e contemporânea do povo negro no Brasil. Este artigo examina as origens e significados dessa data, destacando o papel de Zumbi dos Palmares como símbolo de resistência ao sistema escravocrata e a importância do Quilombo dos Palmares como um marco da luta pela liberdade. A análise também aborda como os movimentos negros do século XX recuperaram essa memória para transformá-la em um marco de reflexão e afirmação da identidade negra no Brasil, questionando a narrativa histórica oficial e propondo novas perspectivas sobre o passado e o presente.
1. Introdução
O Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888, mas o impacto desse sistema desumano continua a moldar as estruturas sociais, econômicas e culturais do país. Durante muito tempo, a narrativa histórica oficial enfatizou a Lei Áurea como o grande marco da liberdade negra, ignorando o protagonismo das pessoas escravizadas e de seus descendentes na luta pela emancipação.
O 20 de novembro, escolhido como o Dia da Consciência Negra, emerge como uma resposta crítica a essa perspectiva. A data homenageia Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história brasileira, morto em 1695. Mais do que uma celebração, o 20 de novembro simboliza a resistência negra e o compromisso com a construção de um futuro mais igualitário.
2. Quilombo dos Palmares: A Resistência em Contexto
O Quilombo dos Palmares foi fundado no final do século XVI na região da Serra da Barriga, na atual Alagoas. Tornou-se um dos maiores símbolos de resistência negra no período colonial, reunindo não apenas pessoas negras fugidas da escravidão, mas também indígenas e outros marginalizados.
Palmares era uma sociedade organizada, com estruturas de defesa e produção agrícola, que resistiu por mais de um século às investidas das tropas coloniais. Em sua liderança, destacaram-se figuras como Ganga Zumba e, posteriormente, Zumbi, que assumiu um papel central na defesa do quilombo.
Zumbi, nascido em 1655, foi capturado ainda criança e entregue a um missionário católico. Educado sob os preceitos da igreja, ele fugiu aos 15 anos, retornando a Palmares para liderar a resistência. Sua liderança se destacou pela determinação em recusar acordos com os colonizadores que implicassem na manutenção do sistema escravista.
A resistência de Palmares chegou ao fim em 1694, após um ataque maciço liderado por Domingos Jorge Velho. Zumbi foi capturado e morto no ano seguinte, em 20 de novembro de 1695, mas sua memória tornou-se um símbolo duradouro de luta e liberdade.
3. A Crítica ao 13 de Maio e a Revalorização do 20 de Novembro
Após a abolição da escravidão, em 1888, o Estado brasileiro falhou em integrar os negros libertos na sociedade. Não houve políticas públicas que garantissem acesso à terra, educação ou trabalho, perpetuando desigualdades que persistem até hoje.
A celebração do 13 de maio foi promovida pelas elites como um marco de generosidade da monarquia, ignorando as décadas de resistência dos próprios escravizados. Essa narrativa foi questionada pelos movimentos negros do século XX, que viam no 20 de novembro uma data mais representativa da luta e do protagonismo negro.
Em 1978, o Movimento Negro Unificado (MNU) resgatou a memória de Zumbi dos Palmares, promovendo a data como o Dia da Consciência Negra. A escolha refletia a necessidade de recontar a história sob a perspectiva dos oprimidos, destacando a resistência ativa contra o sistema escravista.
4. O Significado Contemporâneo do 20 de Novembro
O 20 de novembro transcende o resgate histórico e adquire um papel essencial na luta contra o racismo estrutural no Brasil. Ele é um momento para refletir sobre:
1. Desigualdades Sociais e Econômicas
Apesar dos avanços legais, a população negra continua a ser a mais afetada pela pobreza, pela violência e pelo desemprego no Brasil. O 20 de novembro é um convite à análise crítica dessas disparidades e à busca de soluções efetivas.
2. Representatividade e Cultura Negra
A data também é uma celebração da cultura afro-brasileira, destacando contribuições como o samba, a capoeira, as religiões de matriz africana e outras expressões culturais que moldaram a identidade nacional.
3. Educação e Consciência Histórica
Desde 2003, a Lei 10.639 tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira no currículo escolar. O 20 de novembro reforça a importância dessa educação para desconstruir preconceitos e promover o respeito à diversidade.
5. Desafios e Perspectivas para o Futuro
Embora o 20 de novembro tenha ganhado espaço no calendário nacional, ele ainda enfrenta resistências e desafios. Muitos estados e municípios não reconhecem a data como feriado, e há setores da sociedade que minimizam sua importância.
Além disso, o racismo estrutural permanece como uma barreira significativa para a plena realização da igualdade racial no Brasil. O 20 de novembro, portanto, não é apenas uma comemoração, mas um chamado à ação coletiva para combater a discriminação e construir uma sociedade mais justa.
6. Conclusão
O Dia da Consciência Negra é um marco essencial na história do Brasil. Ao celebrar a memória de Zumbi dos Palmares e resgatar o protagonismo negro na luta por liberdade, ele desafia narrativas históricas consolidadas e propõe uma reflexão crítica sobre o passado e o presente.
Mais do que uma homenagem, o 20 de novembro é um compromisso com a transformação social e a promoção da igualdade racial. Ele nos lembra que a luta pela liberdade e pela justiça não é apenas uma questão do passado, mas uma tarefa contínua e urgente para o futuro.
[10:51, 20/11/2024] Fábio Medina Osório I: Você conhece a importância da consciência negra no Brasil? O dia 20 de novembro resgata a luta histórica e contemporânea do povo negro no Brasil. Confira nossa reflexão aqui, nesta data tão especial.